A vida cristã envolve viver com o mistério. Muitas vezes, a vontade de Deus é totalmente incompreensível para nós. É assim mesmo que deveria ser, já que os caminhos de Deus são muito maiores do que os nossos, mas isso não significa que seja mais fácil conviver com ele. Viver com mistério é difícil.
Uma reação que tenho notado entre os cristãos de todo o mundo é tentar transformar mistérios em problemas. Este é um caminho falso. Os problemas são questões "lá de fora" que podem ser resolvidos. Como colocar um homem na Lua é um problema, e não um mistério. Um problema sempre pode ser resolvido com tempo suficiente, recursos e engenho humano.
Por exemplo, o mal que existe no mundo é um mistério, não um problema. Mistérios não podem ser resolvidos. Chegar a um acordo sobre eles é perfeitamente possível. Podemos tentar tratar o mal como um problema, por meio da oração para a cura ou libertação, ou introduzir uma melhor educação, ou a eleição de líderes morais mais fortes, e assim por diante, mas por mais que tentemos, ele não vai embora. Nós nunca poderemos resolver o "problema" do mal. É um mistério. Nós tentamos entendê-lo da melhor maneira possível, mas temos que viver com ele.
Cristãos perseguidos não são diferentes dos demais cristãos em muitos aspectos. Eles são cheios de falhas, equívocos e pecados – assim como os cristãos da Igreja brasileira. Também nesta questão de lidar com o mistério da vontade de Deus, apresentam as mesmas características.
O mistério deve ser vivenciado em silêncio, humilde e cuidadosamente. Nós não devemos ter pressa para explicar o que não pode ser explicado. Lembro-me de uma visita à China onde conheci a casa de um famoso líder da igreja. Nós estávamos falando sobre avivamento.
Avivamento é um mistério. Por que Deus traz para alguns países e não a outros? Nós não sabemos. Este líder disse que sabia: "Oh, não há mistério para o avivamento. Avivamento é provocado pela perseguição. Você ora por perseguição, e você vai ter avivamento mais tarde."
Mas, isso é completamente controverso. Muitos irmãos da Igreja Perseguida desconhecem a história da Igreja em todo o mundo. Deus tem trazido avivamento sobre aqueles que não sofrem perseguição. Os grandes avivamentos do século 18 da América e Grã-Bretanha, por exemplo, foram trazidos em grande parte como resultado da pregação de Whitefield e Wesley. Também é notável que há lugares onde a perseguição não trouxe avivamento. Da África do Norte e Oriente Médio, surgiram muitos líderes da Igreja primitiva, como Tertuliano e Agostinho. Agora, só há as ruínas de areia de igrejas e a crescente ascensão do islamismo.
Os mistérios também devem nos fazer mais honestos. Temos de admitir que "não conhecemos" a Deus. Mas, muitas vezes pedimos para obter respostas, que nós simplesmente não conseguimos manusear.
Mas, se eu olhar para as experiências, ao invés de olhar para as explicações dos cristãos perseguidos, percebo que, no coração do mistério, não há frustração, mas alegria e graça. O mesmo líder chinês – tão confiante porque sabia a fórmula para o avivamento – também compartilhou uma experiência na prisão: "Eu tinha perdido a minha igreja, minha liberdade, e eu estava começando a perder a minha saúde, então eu gritei a Deus: ‘Por que o Senhor está me deixando passar por isso?’”
Ele não recebeu resposta formal, mas disse: "Eu senti uma luz dentro de mim que afugentou a escuridão, e eu recebi a companhia de Cristo. Eu não posso explicar mais do que isso, embora Deus saiba que eu tentei. Isso nunca dá certo. Mas o mistério da vontade de Deus foi o que me permitiu repousar sob a confiança de Cristo.”
Mistérios parecem escuros como buracos negros, mas quando entramos neles, nos encontramos diante de uma descoberta maravilhosa. No centro não há escuridão, mas luz. Esta luz é a luz de Cristo. Paulo descreveu a si mesmo como um "mordomo dos mistérios de Deus." (1 Coríntios. 4.1). Este mistério é o mistério do amor. Não tenha medo do mistério de Deus. É escuro do lado de fora, mas cheio de luz no interior.
O texto acima foi retirado do livro "15 razões por que precisamos ter um encontro com a Igreja Perseguida" (tradução livre), de Ron Boyd-MacMillan, diretor estratégico da Portas Abertas Internacional.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoAnne Karen Oliveira
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