O primeiro treinamento de aconselhamento para situações de trauma, oferecido pelas Portas Abertas na Síria, tinha o objetivo de auxiliar as igrejas locais a ministrar aos refugiados iraquianos naquele país. O que ninguém poderia saber é que, em breve, os sírios iriam precisar desse treinamento para ajudar seu próprio povo
Kyra Porter* já treinou cinco grupos de cristãos sírios. Ela sabe por experiência própria o que os cristãos do país estão atravessando, pois ela viveu muitos anos no meio de um conflito similar. Kyra afirma que o treinamento que a Portas Abertas oferece às igrejas é uma introdução.
"Não creio que todos serão conselheiros de traumas após alguns dias de treinamento. Para isso, precisa-se de um treinamento muito intenso e longo", apressa-se em dizer. "A introdução os torna conscientes do trauma e do que ele faz às pessoas. Após serem treinados, eles serão capacitados a ajudar as pessoas traumatizadas em suas próprias igrejas".
Os participantes aprendem a falar sobre dor, a compreender melhor as pessoas que passam pela dor. Eles aprendem como ouvir e também a enxergar suas próprias incapacidades, suas dificuldades para dormir ou suas reações físicas.
"Os sírios que conheci parecem ter mudado desde o começo deste ano. Não que a situação tenha mudado, mas parece que eles aprenderam a lidar com todo o caos estabelecido no país. Pode ser estranho dizer, mas as pessoas se acostumam à guerra". Kyra sabe muito bem do que está falando porque, por muitos anos, viveu em um país devastado pela guerra.
"Instintivamente, todos temos em mente um modo de criar medidas de segurança. Sei de uma mulher que dorme com um livro de oração embaixo do travesseiro; isso a faz sentir-se mais segura. Outros, por exemplo, pensam: ‘Depois de amanhecer, é perigoso sair, mas, durante o dia, não’. Então, as pessoas criam um tipo de segurança em suas mentes para dar-lhes um certo controle sobre a situação e sobre os riscos que irão assumir".
Algumas vezes, essas medidas de segurança não estão somente nas mentes das pessoas. "Há muitos problemas com franco-atiradores nas cidades sírias. Ultimamente, as pessoas colocaram muros com sacos de areia em vários bairros de Damasco. Isso dá uma sensação de segurança, mas não quer dizer certamente que tudo esteja seguro".
Kyra explica que todas essas medidas "são uma maneira normal de lidar com conflitos contínuos, uma habilidade de sobrevivência". E continua: "Durante meu treinamento com cristãos sírios, fiquei completamente maravilhada com os trabalhos em grupo que se referiam à esperança para o país. Um dos grupos fez um trabalho tridimensional. De um lado, podia-se ver destruição, desespero; do outro, havia esperança e um futuro. É exatamente isso que esperamos com o treinamento da Portas Abertas; queremos mostrar o quadro completo".
Ela ouve muitas histórias vindas da Síria. "As pessoas estão clamando a Deus, muitas pessoas estão sendo salvas. Estamos vivendo na época do livro de Atos novamente: Saulos estão se tornando em Paulos. A Igreja está em chamas, sinais milagrosos acontecem. Deus está operando através da situação do país".
"As pessoas vão para Deus carregando suas raivas e questionamentos. O Senhor não se intimida com os ‘porquês’, pois sabe que quando as pessoas lhe perguntam ‘Por quê?’ ou o criticam por conta da situação, elas declaram que ele existe. Todo esse questionamento é uma parte normal da dor. Mas, para ser honesta, também ouvimos histórias de pessoas deixando Deus por causa da crise. Recentemente, um homem me contou que sua mãe deixara o Senhor. Ela era uma cristã devota, um símbolo de fé para seu filho".
Mesmo diante dessa circunstância, Kyra relata: "O mais lindo que vejo na Síria é o grande desejo por Deus e o desejo de servir. Quando se olha para fora, quando se vê que um pode ajudar o outro a lidar com os traumas, entendemos que somente quando permitirmos que Deus nos conduza através do processo de cura é que poderemos levar ajuda aos demais também. Nós nos tornamos pessoas feridas que também curam e caminhamos pela estrada da esperança e da restauração com aqueles que sofrem."
Leia a continuação desse relato amanhã (01/12).
Leia a continuação desse relato amanhã (01/12).
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoGetúlio A. Cidade
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