Neste artigo apresento os fatos, que já são do conhecimento de alguns, sobre a situação das igrejas evangélicas na Nigéria, onde os pastores estão acusando crianças de serem bruxas e cobrando altas taxas para exorcizá-las. Procurei fazer uma exposição clara para que o cidadão normal, não acostumado com a linguagem do “gueto” evangélico, também pudesse compreender a situação.
O leitor também encontrará informações sobre o grupo brasileiro do “Caminho da Graça” enviado à Nigéria, pelo pastor Caio Fábio, com a ajuda de irmãos do Caminho em todo o Brasil. As informações que deram origem as investigações são formadas por dois vídeos (vídeo 1, vídeo 2), e as demais estão reunidas no site do pastor Caio Fábio na seção intitulada “Dossiê Nigéria“.
É chocante, eu mesmo não acreditaria se não visse com meus próprios olhos, mesmo sabendo que essa é uma possibilidade iminente, quando vejo como são as igrejas evangélicas pentecostais do nosso país. Os evangélicos se dizem perseguidos pela mídia, sobretudo pela Rede Globo de televisão, mas caso não existisse meios de comunicação denunciando a corrupção nesse meio, imagine as bizarrices que teríamos em nosso país.
Fiquei aterrorizado ao ver o que o cristianismo das igrejas evangélicas criou nos países africanos, onde crianças são acusadas de bruxarias pelos pastores, que pedem uma quantia equivalente a cerca de 4 meses de trabalho para que as crianças sejam exorcizadas. O exorcismo consiste em mutilar os corpos das crianças (como poderão ver em vídeo anexo) e queimar os ferimentos com o fogo de uma vela.
As famílias mais pobres que não podem pagar ao pastor pelo “exorcismo”, ou que pouco se importam com as suas crianças, tentam elas mesmas “curar a bruxaria” torturando-as, mutilando seus corpos ou simplesmente as abandonando no mato.
Quem são os pastores que praticam esse tipo de coisa
São pastores que se “converteram” das “cruzadas evangelísticas” feitas por missionários da América do Norte ou da Europa, que seguem a linha pentecostal e neopentecostal de doutrina. Para que o leitor leigo no assunto saiba o que siguinificam essas designações, darei alguns exemplos de igrejas pentecostais e neopentecostais brasileiras: pentecostais, por exemplo, Igreja Universal do Reino de Deus, Assembléia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Brasil para Cristo, Igreja Deus é Amor, entre muitas; como exemplo de neopentecostais, temos: Igreja da Graça, Igreja Mundial do Reino de Deus, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Sara Nossa Terra (lembrando que esses são somente exemplos e não significa que essas igrejas estão envolvidas; apesar de não fazerem nada à respeito e algumas apoiarem pessoas como Reinhard Bonnke).
Você mesmo que visitou algumas dessas igrejas, ou assistiu algum vídeo na internet, provavelmente presenciou o desrespeito que eles têm pelos seres humanos e que descaradamente aproveitam-se das superstições e das necessidades do povo para obter poder e dinheiro.
No Brasil, aproveitam-se da pobreza que contrasta com a proposta capitalista de estilo de vida que é vendida ao povo pelos meios de comunicação, oferecendo prosperidade financeira ao fiel. Também se aproveitam do medo aos espíritos, gerado pela cultura das religiões afro, oferecendo “proteção espiritual” a quem freqüenta as reuniões e prometem fidelidade aos pastores “guias”.
Imagine o que uma crença desse tipo, capaz de sincretismos tão perversos, é capaz de criar em um país como a Nigéria, recém colonizado e vítima de golpes militares e guerras civis sangrentas. Desejosos por terem uma vida luxuosa, como a que se tem nos países ricos, de onde vêm os missionários, não demorou muito para que 90% do povo se tornasse cristão.
Os antigos deuses dos nigerianos foram vencidos pelos colonizadores, assim como nas guerras da antigüidade, onde os deuses dos países vencidos (incapazes de conduzir o povo a vitória) eram substituídos, aos poucos, pelos deuses do povo vencedor.
O principal precursor dessa doutrina perversa na Nigéria, foi um alemão e pastor neopentecostal conhecido como Reinhard Bonnke, o qual foi recebido pela Igreja Batista da Lagoinha no ano de 2007 com todas as honras de um “grande homem de Deus” (Fonte).
O jornal alemão Die Zeit o caracteriza como “um dos mais bem sucedidos missionários do nosso tempo” (Fonte). Como se não bastasse, esses missionários na África ainda recebem caches milionários para virem pregar em congressos em outros países, como aconteceu aqui no Brasil.
Assim como Reinhar Bonnken, a maioria desses pastores fizeram fortunas as custas da miséria do povo africano prometendo prosperidade material e proteção contra a bruxaria (Fonte). Esses novos missionários, romperam com a escola tradicional, onde instituições sérias construíam hospitais e colégios para atenderem as necessidades do povo carente, e criaram instituições religiosas gigantescas e milionárias como “Assembléia do Novo Testamento”, “Igreja de Deus das Missões”, “Evangelho Monte Sião”, “Glória de Deus”, “Irmandade da Cruz”, “Liberdade do Evangelho”, entre muitas outras.
“Velhas tradições africanas que através do Cristianismo não foram absorvidas ou marginalizadas, serão completamente tomadas por estas igrejas. Bruxaria e magia são uma realidade, temos a força para lutar contra isso”, afirma Kamphausen ( diretor da Academia de Missão da Universidade de Hamburgo).
Como funciona o esquema
Os missionários brancos, vindos da América e da Europa, não se envolvem diretamente com a vitimização das crianças, como já era possível imaginar. Isso representaria muitos problemas para eles, tanto na Nigéria como em seus países de origem; um problema desnecessário, uma vez que o negócio deles é promover grandes cruzadas e construir grandes ministérios.
O que eles fazem é demonizar o povo nigeriano. Pregam sobre os espíritos que fazem mal as pessoas e que são enviados pelos bruxos, oferecem proteção espiritual àqueles que se tornarem comprometidos com a igreja. Ao contrário do que Jesus ensinou, eles pregam que, para combater os feitiços enviados pelos bruxos, não basta a fé simples em Jesus, mas sim um trabalho contrário, ou seja, as obras e as causas da igreja.
Assim como fazem aqui no Brasil, ensinam o povo que a pobreza é uma obra do diabo, e que a inveja e o olho gordo de pessoa de fora da comunidade, é o responsável pela má sorte nos negócios, na família e na vida sentimental. A resposta para essa situação de miséria é então fornecida por esses pastores. Eles ensinam que o fiel comprometido com a “obra” não está a mercê dos espíritos causadores de má sorte e também que Deus dará uma posição privilegiada na sociedade aos mais fiéis.
Os pastores negros da Nigéria não têm nem 1 milésimo dos recursos necessários para se promover uma grande cruzada evangelística, como fazem os brancos. Eles vêem os pastores brancos enriquecerem e se tornarem autoridades poderosas em seu país, mas não têem os mesmos recursos para fazerem o mesmo. Eles não podem prometer prosperidade aos fiéis, pois eles mesmos não são tão ricos e poderosos como os brancos, além do assunto “prosperidade” já ter se desgastado muito devido as promessas feitas pelos brancos.
Dessa forma, o que resta a eles é usar o medo da bruxaria que os nigerianos possuem, pois o assunto bruxaria está presente na cultura nigeriana há milênios. Não é mais possível dizer na Nigéria que pessoas não crentes enviam maldições as pessoas (como aqui no Brasil se faz devido a Umbanda e o Candomblé), pois mais de 90% da população é evangélica. O que eles fazem é usar um mito antigo de que existem “crianças bruxas” enviadas por Satanás para atrapalharem os negócios da família, trazendo má sorte e doenças, acusando as únicas pessoas que não têm voz em um país de gente embrutecida e gananciosa, como a Nigéria de hoje em dia.
O material teórico responsável por produzir esse sistema diabólico, conhecido como “Batalha Espiritual“, presente hoje na Nigéria, é o mesmo que fez sucesso no Brasil nos anos 80 e 90. Quem não se lembra dos grupos formados por fiéis da Universal presos por invadirem centros de macumba? É essa teoria, que começou a ser produzida pelo seminário de missiologia norte-americano “Seminário Teológico Fuller” e que teve como grande precursora no Brasil a pastora pentecostal Neusa Itioka, que hoje lota as livrarias nigerianas, como nos confirma o grupo do Caminho da Graça na Nigéria.
Pastores Nigerianos enriquecem rapidamente na Nigéria, exibindo carros luxuosos e jóias em ouro pelo corpo. O que deveria ser um sinal para que o povo nigeriano desconfiasse desses pastores faz exatamente o contrário, ou seja, o povo vê a riqueza desses pastores e os consideram abençoados e grandes “homens de Deus”, como confirma o nigeriano Kefing Foluke.
“Há no vídeo um religioso católico, lutador solitário, que vamos procurar encontrar a fim de trabalharmos juntos contra o comércio de alminhas humanas. Para aqueles seres mais sectários e apologetas, que endurecerão o coração com a veiculação de uma matéria que poderia ser tendenciosa, já que um padreco africano encaminha os repórteres americanos aos cultos “evangélicos”, eu só tenho a dizer o seguinte: ‘Sejam esmagados pela realidade das imagens promovidas pelo teatro de horrores que a teologia da prosperidade já fez em toda a África Central… em proporção endêmica! E façam apologia contra a praga neopentecostal e não contra o Amor!’” (Fonte).
E as autoridades nigerianas?
As estatísticas sobre o crescimento dos grupos pentecostais, chamados “carismáticos”, impressionam. Segundo o World Christian Database, em Boston, a Nigéria é o terceiro país do mundo em número de seguidores de igrejas pentecostais, com aproximadamente 3,9 milhões de fiéis. O país fica apenas atrás do Brasil, com mais de 24 milhões, e os Estados Unidos, com cerca de 6 milhões.
Estima-se que mais de 5000 crianças foram abandonadas na Nigéria desde 1998 por conta das acusações de bruxaria feitas pelos pastores evangélicos, para morrerem; isso quando não são mortas, espancadas, dilaceradas e violentadas antes de serem abandonadas. Estatísticas dizem que a cada 5 crianças abandonadas, 1 acaba morrendo de desnutrição ou por conta das torturas indescritíveis que elas sofrem.
Em seu último comunicado (15/01/2010), os irmãos do “Caminho da Graça” enviados para ajudarem as crianças, relataram a situação que encontraram no lugar onde muitas crianças de refugiam
“[...] Falo a respeito da mais estranha categoria de estigmatização infantil. Tenho por certo que uma bomba de insanidade varreu a humanidade que um dia possa ter existido aqui. Agora… para qualquer lado que se olhe, está tudo lá… É difícil apagar. Ficou estampado, marcado, manchado. É um painel de horrores e o famoso clichê se aplica aqui: É cenário de guerra civil. Tem sangue, mosquito, estupro, abutres, mutilação, monturo, extorsão, maldição, feitiçaria, tumores, exploração, correntes, medo, terror cristão, desencanto e morte.” (Fonte).
Na Nigéria não existem leis de proteção as crianças como em nosso país e não há ninguém que se importe com elas. Os missionários cristãos com suas “teologias de prosperidades” e o estilo de vida dos países capitalistas, pregados como os “ideais de Deus para os homens”, fez com que o povo nigeriano, acostumado a tantas guerras e dificuldades, se tornasse extremamente gananciosos e amantes do dinheiro. Quando os pastores acusam suas crianças de bruxaria, alguns pais vêem aí uma oportunidade de se livrarem de suas crianças, as quais não têm para eles nenhum valor econômico (veja reportagem da tv norte-americana ABC acima).
“Os obreiros-empregados da “Helen-Macedo” usam os mesmos artifícios empregados aqui, na luta contra os “ímpios” que, cegados pela incredulidade, NEGAM que as crianças sejam BRUXAS. No vídeo de quase 3 minutos, a “gangue” da evangelista invade o salão. Eles estão todos de laranja. Entram de surpresa decretando domínio territorial em nome de Jesus e cantando louvores de guerra. E terminam por expulsar na violência um organizador (grandão, por sinal).” (Fonte).
Nollywood, a Hollywood da Nigéria
Uma coisa, que pode ser surpresa para a maioria das pessoas, é que a Nigéria tem a terceira maior industria cinematográfica do mundo, ficando atrás somente de Hollywood e Bollywood. Em termos de produção de filmes, talvez a industria de filmes da Nigéria supere as demais, uma vez que são produzidos cerca de 1000 filmes por mês.
“O cinema da Nigéria tem crescido nos últimos anos e, embora seja um mercado extremamente informal, teve uma grande explosão de produção (…) que tem chamado a atenção mundial por suas características únicas. Toda as produções são realizadas em vídeo. Sua produção é tamanha que já lhe rendeu o apelido de “Nollywood”, pode ser considerada a terceira maior indústria de produção de cinema do mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood. Em volume de produção, “Nollywood” talvez seja até a maior, já que desde o final da década de 1990 são feitos mais de mil filmes por ano.O mercado da Nigéria é exclusivamente de homevideo (com 90% da produção sem distribuição oficial, legalizada), pois praticamente não existem mais salas de cinema no país. Com este panorama, não é possível apontar com alguma precisão o tamanho desta indústria. Faltam estatísticas precisas ou elas simplesmente não existem. A única fonte oficial minimamente confiável é o National Censorship Board, responsável pela classificação indicativa, embora o órgão não dê conta do grande volume de produção, e de toda sua informalidade, com muitos filmes sendo “lançados” sem a indicação etária. Sem salas de cinema, a Nigéria conta com cerca de 15 mil locadoras, e em quase todo tipo de comércio pode-se encontrar filmes para vender ou alugar. Estima-se que cada filme venda cerca de 25 mil cópias (…).Geralmente são os próprios produtores que se encarregam da distribuição das fitas e DVDs, garantindo um retorno financeiro fácil e rápido, com uma margem de lucro não muito ambiciosa, mas volume muito grande. Com esse esquema de produção, em apenas 15 anos a indústria cresceu do zero para um mercado de cerca de US$ 250 milhões por ano que emprega milhares de pessoas. Estima-se que cerca de 300 diretores estejam em atividade, produzindo um total de aproximadamente dois mil filmes por ano. O sucesso desta indústria reside principalmente no fato de a temática dos filmes ter um apelo direto com o público local, por tratar de preocupações, conflitos e realidades que freqüentam o noticiário e o imaginário da população local. Os temas mais freqüentes são a AIDS, corrupção, prostituição, religião e ocultismo.” (Fonte).
Em um pais onde 90% da população é envangélica, esse é um veículo de comunicação ideal para que essas práticas contra as crianças sejam divulgadas por esses pastores. Os filmes são feitos com o objetivo de deixar o povo nigeriano preocupado com o fato de que um dos seus filhos pode ser um bruxo. Nas dramatizações, as “crianças bruxas” são chamadas pelo diabo enquanto estão dormindo, saem do seu corpo em espírito e aprontam todo o tipo de maldade, que serão sentidas pela suas famílias.
A maior produtora desse tipo de filme é a evangélica Helen Ukpabio, famosa no país por ser produtora de cinema, e recentemente tem feito adversários na sociedade civil por instigar a idéia que crianças podem ser bruxas, demoninhos serviçais de potestades brancas (Fonte).
Veja no vídeo abaixo um dos grandes sucessos produzidos por Helen Ukpabio, chamado “O fim dos ímpios”, onde são mostradas crianças sendo convocadas pelo diabo a noite para aterrorizarem o resto da família.
“Profetisa neopentecostal, de visão macediana em suas campanhas de libertação, e muitos empregados-obreiros fanáticos que fazem Batalha Espiritual contra pequeninos, Helen Ukpabio é a “neusa etioka” da África. A diferença é que se a Sra. Etioka visse que sua pregação estimula o abandono infantil, a agressão contra os pequenos, o amordaçamento das crianças de peito, o embaraço emocional e o infanticídio real, há muito ela, nossa Neusa, teria parado de falar. Calar-se-ia para sempre!Mas Helen Ukpabio fez fortuna. De onde está, não tem como voltar.Assista ao vídeo e pense que você é um adulto nigeriano que congrega numa igrejinha perto de casa. Imagine que você tem filhos pequenos, meio levados, meninos saudáveis mas, às vezes, atrapalhados; que deixam cair um prato, quebram um copo sem querer, brigam na escola. E antes de culpar a intolerância pagã de um cristão nigeriano, pense se você já não procurou culpados espirituais por suas doenças e desempregos.” (Fonte).
Visitado em 29/09/2013 às 22:01 http://atestemunhafiel.no.comunidades.net/index.php?pagina=1032520915
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